domingo, 10 de maio de 2009

Resenha crítica Vilém Flusser

O texto "Design: obstáculo para a remoção de obstáculos?", contido no livro O mundo codificado, de Vilém Flusser, discute o processo de criação de objetos e a intencionalidade do criador. A leitura do texto concentra-se em três pontos principais: a discussão sobre o que é responsabilidade na projeção de objetos, a definição de design imaterial e uma reflexão sobre a efemeridade dos objetos.

Vilém Flusser considera que o objeto é um elo, algo que está no meio, na transição entre os homens de uma mesma geração ou não e que, dessa forma, deve ser imaginado e construído não apenas para remover um obstáculo cotidiano momentâneo, mas também estimular outras pessoas a prosseguir na elaboração ou na determinação de usos do que foi criado e até recriado ao longo do tempo.

Um tópico levantado por ele se encaixou perfeitamente na percepção que eu tinha sobre a projeção como um todo: a noção de responsabilidade de criação dominante na sociedade desde os tempos da Renascença, de que ela está vinculada à funcionalidade, ao utilitário. Eu não havia refletido sobre isso antes. É bem mais simples e sensato pensar que a responsabilidade está associada mais ao "intersubjetivo" e "dialógico" do que ao "objetivo" e "problemático".

Sob esse aspecto, é possível traçar um paralelo com os textos de Hertzberger, em que o arquiteto seria aquele que oferece a estrutura, a "urdidura" do tecido e, ao mesmo tempo, a "trama", ou seja, a possibilidade dada aos usuários e/ou moradores de combinar com liberdade os elementos de um espaço.

O segundo ponto é a questão da elaboração de objetos virtuais, o chamado "design imaterial" que, segundo o autor, já se dirige instantaneamente aos outros homens. Eu não havia pensado na internet e no computador como "objetos translúcidos", tal qual ele coloca. Por fim, o terceiro ponto relaciona-se aos utilitários, que promovem soluções e depois acomodam os usuários, e impedem a visão de novas soluções, e ao acúmulo de dejetos de objetos. Acredito que a medida que avançamos em funcionalidade, distanciamo-nos da comunicatividade. Penso que devemos estar mais perto desta para que nossas idéias resistam verdadeiramente ao longo do tempo, não só no meio material, mas também na vida das pessoas, transformando e sendo transformada por elas.

Ah! Eu não podia esquecer...O texto de Vilém Flusser propõe INTERATIVIDADE, tudo a ver com a proposta do objeto interativo, que tem tudo a ver com o que a Arquitetura propõe. Assim, ao ler o texto e formular objetos interativos, ensaiamos criatividade e tentamos obter não um progresso científico ou funcional, de manejo da realidade e controle sobre as coisas, mas sim uma consciência maior sobre o grau de liberdade e de influência que os espaços, juntamente com os objetos incluídos neles, têm no cotidiano das pessoas e nas relações humanas.

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